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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O ABRAÇO

Eu não havia me dado conta do quanto um abraço faz diferença até o dia em que minha mãe me acordou bem cedinho e contou que meu pai estava com câncer e que, na opinião dos médicos, ele viviria apenas mais seis meses. Parece que tiraram o chão sob meus pés, senti-me um pouco tonto e um nó na garganta explodiu em um choro angustiado com lágrimas em abundância. Foi então que mamãe, ainda uma mulher forte, apesar de suas constantes enfermidades ocasionadas pela diabete veio até mim, e me abraçou. Choramos juntos por um tempo não muito longo, mas que pareceu ser eterno.

Esaú abraçou a Jacó depois que este se prostando em terra por sete vezes, numa notória atitude de humilhação, se aproximou dele. A Bíblia, emocionadamente diz: “Então, Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou; arrojou-se-lhe ao pescoço e o beijou; e choraram” (Gn 33.4). Jacó havia voltado, nutrindo em seu coração o desejo de reconciliação. Ele havia sido convertido. A Bíblia também nos conta que José “...se lançou chorando sobre o seu irmão Benjamim e o abraçou, e Benjamim também o abraçou chorando”. (Gn 45.14) Isso aconteceu quando ele, José, se revelou aos seus irmãos. O abraço de José e Benjamim selou o reencontro, o recomeço, apagou mágoas, ressentimentos. Jacó, já idoso e quase totalmente cego fez com que os filhos de José se aproximassem dele, e então.....os abraçou e beijou (Gn 48.10)

A Bíblia diz que “há tempo de abraçar e tempo de se afastar-se de abraçar” (Ec 3.5). Sim, há momentos em que precisamos nos distanciar, refletir, fazer uma profunda avaliação dos nossos atos e das palavras, para, então, podermos voltar ao abraço que conforta, solidariza, reparte, reconcilia, afaga e protege. Foi isso que o pai daquele filho ingrato fez quando viu que seu filho retornava, maltrapilho, surrado pelas circunstâncias, humilhado pelos resultados funestos de suas loucas decisões. O pai correu e abraçou o filho como que dizendo a todos; Não o apedrejem nem o agridam, ele é meu filho amado que retorna para meu convívio. Eis aí um ato de proteção, de consolo e de recomeço, no abraço do pai. (Lucas 15.11-32)

Um abraço também sela uma despedida. Paulo, reuniu os Presbíteros da Igreja de Éfeso e disse a eles que essa seria a última vez que eles veriam o seu rosto e após algumas palavras de instrução sobre os cuidados com o rebanho e um alerta sobre o perigo dos lobos vorazes e outras palavras de despedida, eles ajoelharam e Paulo orou com eles. Lucas escreveu: “Então, houve grande pranto entre todos, e abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam, entristecidos especialmente pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até o navio”. (Atos 20.37,38)

Recentemente li uma história comovente sobre o abraço. Não posso provar que seja verdadeira, mas é verossímel se levarmos em conta as nuances. Essa história é sobre a primeira semana de vida de duas crianças gêmeas. Cada uma estava numa incubadeira e uma delas não tinha perspectiva de sobrevivência. Uma enfermeira foi contra as regras hospitalares e colocou as duas crianças juntas numa única incubadeira. Depois de colocadas juntas, a mais saudável estendeu o braço e o colocou sobre os ombros de sua irmã. Minutos depois o coração da mais frágil teve seus batimentos estabilizados e sua temperatura foi a níveis normais. Esse foi um abraço terapêutico.

É provável que um abraço sincero, singelo e amoroso se torne mais eficiente do que muitos discursos, uma terapia para enfermidades do corpo e da alma. Aproveite para abraçar quem você ama, enquanto isso é possível, enquanto houver possibilidade de retribuição.

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