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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UMA PRISÃO CHAMADA COMODISMO.

Na semana que findou, li de bate-pronto, um livro que conta a história de uma norte coreana Soon Ok Lee. Essa literatura segue, em estilo, ao famoso Refúgio Secreto de Corrie ten Boon, aquela holandesa que foi enviada ao campo de concentração na segunda guerra mundial, acusada de abrigar judeus em sua casa e que, por um milagre foi libertada.



Soon Ok Lee, era membro do Partido Comunista na Coréia do Norte. Em suas próprias palavras ela diz: "Como não havia nascido um filho homem na família nas últimas gerações, fui completamente treinada na doutrina comunista". Essa mulher acreditou, um dia, que o comunismo marxista era o caminho da felicidade e da justiça, mas acabou por enfrentar a dor de ter de passar seis anos em uma prisão, depois de quatorze meses de interrogatórios, como resultado de um processo judicial forjado e mentiroso. Na verdade essa mulher, como muitas na Coréia do Norte, assim como muitos homens, foi parar na prisão para compor um contingente enorme de pessoas que se constituiam, e ainda se constituem, em mão de obra gratuita.

Privada do convívio com seu marido, a quem nunca mais viu, e com seu filho, com o qual fugiu para a Coréia do Sul depois de ter sido a primeira mulher, pelo que relatou, a ser libertada depois de sua "ressocialização", Soon Ok Lee viveu os terrores das torturas dentro da prisão. Só quem lê e tem estômago pode ter uma noção da crueldade e desumanidade de um regime comunista, ditatorial e absolutista que insiste em permanecer vigente, como o da Coréia do Norte. Sua libertação aconteceu em 1992.

Quando me aproximei da grande prateleira de livros da Imprensa da Fé, li o título desse livro - OS OLHOS DOS ANIMAIS SEM CAUDA - um livro de 176 páginas, tire-o dali, iniciei a leitura que foi terminada na madrugada de sábado para domingo.

Fiquei atônito, boquiaberto.

Fiquei imaginando que enquanto eu estava aqui em meu país, no início de meu Ministério Pastoral, cheio de sonhos e projetos, vendo meus filhos crescerem, levantando, trabalhando, viajando em férias, pregando e cantando a respeito da Bíblia, mal podia imaginar que aquela mulher, como tantas, lá na Coréia do Norte, passava por aquela experiência tão terrível onde as pessoas deixam de ser humanas para poder sobreviver.

Ao fugir para a Coréia do Sul, em 1995, com seu filho Kim Dong Chel, ambos acabaram por conhecer a Jesus como seu Salvador e Senhor. Lá na prisão, Soon Ok Lee havia conhecido muitos cristãos que foram presos por causa de sua fé e a quem era vedado o direito de olhar para o céu. Os cristãos eram obrigos a manter suas cabeças abaixadas e olhos fitos no chão. Soon Ok Lee viu a forma como os cristãos enfrentaram seus opositores comunistas e afirma em seu livro que nunca presenciou sequer um deles negando sua fé. Muitos foram mortos pisoteados, gemendo, mas nunca recuaram sequer um milímetro em sua fé cristã.

Ao escrever essas memórias, Soon Ok Lee nos mostra como ainda é possível que o homem se deixe iludir pelo culto à personalidade como acontece ainda hoje na Coréia do Norte do falecido Kim Il Sung que foi sucedido por seu filho Kim Jong Il. Ela, assim como todos os prisioneiros e prisioneiras, tinha que decorar os Mandamentos dos Prisioneiros que iniciava assim:

"Adore as autoridades de Kim Il Sung e Kim Jong Il com todo o seu coração. Se você se deparar com qualquer aspecto que venha prejudicar as autoridades, você deve brigar por elas até a morte".

Diabólico, não? Atualmente diabólico, diria.

Ao encerrar a leitura desse livro, orei agradecendo a Deus por meu país, por sua democracia, pela liberdade que tenho de poder expressar minha fé, e ao mesmo tempo pedi perdão porque tenho sido tão tímido em testemunhar de Jesus. Fiquei terrivelmente incomodado com o fato de brigarmos tanto dentro da Igreja por questões tão banais enquanto consumimos nossas energias que seriam muito mais úteis na adoração, evangelização e edificação. 

Que Deus nos liberte dessa prisão chamada comodismo e nos mostre que ainda há muito por ser feito em favor do Reino de Deus e do reino dos homens.